quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ultimamente uma coisa tem me incomodado mais do que o normal, uma coisa ilógica que infelizmente é bem recorrente, se não constante.

Tenho percebido que somos a geração do "não".  E quando "nossa geração" eu falo das crianças pequenas até os adultos de uns 25~30 anos, que é onde vejo isso quase constantemente. Todos estão ligados no modo "não". Mas como assim, geração do "não"?

Bem, vou explicar. Nos últimos anos tenho percebido que cada vez mais as pessoas estão ficando intolerantes, egoístas e possessivas. A expressão "hater" (na tradução bruta "odiador", uma pessoa que odeia algo) surgiu pra exemplificar o tipo de pessoas que estamos virando. Sempre que surge algo novo, ou que alguém diz que gosta de algo, automaticamente vem alguém criticar. Mas ok, criticas são legais, não? Sim, críticas construtivas são, mas o que eu vejo são simples xingamentos que nada acrescentam a uma discussão e que, cheios de si, se auto-afirmam como absolutos.

Entendem o que eu digo? Hoje em dia gostar de algo é quase um tabu, pois só quem não gosta de algo tem o direito de estar certo. Você não pode mais ouvir tal e tal música (socialmente falando) simplesmente porque outra pessoa não gosta, essa é a nova lógica que vem tomando conta da sociedade.

Outro "não" é que você também não pode gostar de algo porque outra pessoa "gosta mais", pra tudo você é chamado de "poser" (pessoa que finge que é fã de algo mas não é, ou algo nessas linhas), mas me diga, o que define um poser? Não saber o nome do tio do ex baterista de uma banda? Porque é desse tipo a cobrança que vejo. Porque não podemos simplesmente aproveitar a música? Porque não juntos? Mas não, a banda é minha, ninguém ama tanto ela quanto eu. Viram a possessividade?

A nova "moda" dos videogames é outro bom exemplo, esse que mostra até um preconceito que já é um velho conhecido nosso. Hoje em dia, se você falar que gosta de tal ou tal videogame de duas uma, ou você é um "poser" que nunca jogou ou você só jogou porque é moda (e isso de algum modo invalida o fato de você gostar do videogame, afinal de contas você só pode gostar de algo quando ninguém conhece ou indica, não?). Até mesmo falar que gosta de videogames no geral, alguém vai te "xingar" de nerd ou falar que é "poser" (heita palavrinha recorrente).

Aé, e se for mulher e disser que gosta de videogames automaticamente é uma "attention whore" (vadia por atenção, traduzindo), porque afinal videogame é "coisa de homem"  e "lugar de mulher é na cozinha" (sentiu o cheirinho azedo da primeira metade do século passado pra trás? Porque eu senti.). Depois de tanta luta por direitos iguais, ou simplesmente por direitos, que as mulheres tiveram a sociedade regride pro ponto onde mulher não pode jogar um jogo? Que historia é essa gente? E essa de "lavar louça", meu bem, vai dizer que tu não lava louça? Aposto que se não lavar leva um tapa da mãe, isso sim. Lavar louça é saudável, sabem? Acho que todo mundo (independente do sexo) deveria fazer, é simples, não tem truque. Agora, se tu é incapaz até de lavar sua louça sozinho, sinceramente você ta na merda.

Bem, voltando ao ponto. Deu pra ver melhor agora a "geração do não"? Aposto que é só você abrir o facebook, o twitter, um vídeo no youtube ou mesmo ouvir umas conversas pingadas na rua que você vai perceber vários exemplos do que eu já disse.

Alguém me responde por que você vai ouvir uma música que odeia só pra xingar depois? Faz tanto sentido quanto comer uma coisa que você odeia só pra vomitar em cima das outras pessoas que estão comendo e aproveitando a comida, sinceramente. Parem com esse negativismo e com essa maldade toda, parem com tanto preconceito e possessividade, o mundo é bonito, minha gente, e grande o bastante pra caber todo tipo de gente com todo o tipo de gosto diferente.

Se querem se revoltar e dizer "não, não, não, não e não", então que digam isso pros políticos que desviam dinheiro público, pro babaca que estaciona na vaga de deficiente e o cara nem vitamina C tem faltando, pro cara que fura fila, pro preconceito, pra corrupção e pra injustiça. Use seu não pra algo útil e contra algo que realmente te afeta e te faz mal, não em uma coisa que você pode simplesmente relevar e continuar vivendo.

Parem de ter uma atitude de criança de 3 anos e cresçam pelo amor de tudo que é sagrado pra você! Vai aproveitar a vida e ter prazer com o que gosta e deixa de ser um ranzinza chato que fica pisando tanto no calo dos outros que machuca o próprio pé.

A tinta ao tocar papel adquire um novo sabor, um novo cheiro, e esta que está por agora corrompida pelos sentimentos do escritor, deixa manchas de mentiras por onde passa, e cada traço errante que pelo branco desliza imortaliza os pensamentos de quem as traça, torna realidade seus sonhos e o cega de sua ignorância. O sangue negro que flui pela ponta da gélida caneta, traz consigo a pulsação de um coração que, não importando o restante do mundo -que naquele momento para de girar-, acabará por modificar alguém, seja eu ou você, seja ontem, hoje, amanhã ou depois.
A cada ponto brutal ao final de uma sentença, uma ideia se imortaliza, a cada parágrafo uma filosofia é lançada, e ao final do texto tudo o que sobra é a hipocrisia de uma alma solitária que se perde na fantasia que se torna real em sua insanidade. O mundo real se distorce, se revira em seu eixo e é tomado pela escuridão, o irreal o substitui, e o mundo escondido nas trevas corrompe a mente como um veneno, um veneno não menos toxico do que o que tomou seu lugar.

Há de haver um antídoto para tal ignorância, assim como há sempre um soro para a picada de uma serpente. Mas para encontrá-lo seria preciso abrir mão de nosso manto de hipocrisia, que nos aquece da própria solidão e nos protege do mundo que guardamos nos confins de nossa consciência. Todos queremos nos salvar da picada da serpente, mas há algum de nós que queira o antídoto de nós mesmos? A tinta continuara a escorrer sem direção, até que alguém pense em mostrá-la o caminho.

13/06/2010